Hoje estou tentando
iniciar um relato. Já tentei caderno, igual na época de
adolescente... (e lá se vão muitos anos), mas hoje, com minha
cabeça funcionando da maneira que funciona e com a velocidade que os
pensamentos vêm... Se torna impossível escrever a mão. Digitar é
mais rápido, combina mais com o nosso tempo e possibilita a
experiência de compartilhar com um monte de gente: com os mesmos
problemas que eu ou não.
Já tive um blog, há
milhões de anos (é o que parece). Mas era sobre emagrecimento. Na
época foi uma experiência bem legal, conheci muita gente bacana...
As redes sociais ainda não eram como são hoje: não existia
Facebook e Instagram, era a época do falecido Orkut.
Se eu emagreci? Sim, na
época quase 20 quilos... Depois engordei o dobro e bom, acabei me
submetendo a uma cirurgia bariátrica. Mas isso é história pra
outro post.
Hoje, vou falar sobre
o que motivou a criação deste novo... A minha terceira internação
em uma clínica psiquiátrica.
Depois de vários dias
de outra crise depressiva, tendo trocado a medicação e sem
melhorar, me dei conta planejando mais uma vez outra tentativa
suicida. Desta vez não iria ingerir medicações: esse jeito eu sei
que não funciona... Não cheguei nem perto de morrer das outras duas
vezes... Meu corpo tem uma resistência inacreditável a essas
bolinhas... e eu admito que não soube fazer direito. Desta vez, iria
me cortar... É incrível e horrível, mas eu tinha uma curiosidade
louca sobre como seria, mas nunca tinha tido coragem. Nas outras
internações vi meninas bem jovens com os bracinhos cheias de
marcas, eu pensava: será que dói? Vi uma série em que a menina se
matou desta forma... Bem famosa a série, estava na Netflix na época.
Eu assisti durante uma das minhas licenças médicas para tratar da
depressão... Nada apropriado, eu sei!
Bom, num belo dia de
sol, meu namorado saiu pra trabalhar e eu mergulhada naquela
escuridão, fui pra cozinha. Peguei a primeira faca: adivinha? Não
tinha fio. Acho que não cortava nem água. Fui pegando outras...
Nenhuma dava certo: só uns arranhões. Aí peguei uma que tinha uma
pontinha e fiquei literalmente “cavocando” meu pulso, em busca de
uma veia, fui rasgando, aos poucos... Dor? Só no início. Depois a
adrenalina acho que vai tomando conta. Fiz vários arranhões no
braço direito também, Aleatórios, sem direção certa. Uma coisa
meio desesperada... Quando vi uma bolha de sangue coagulado, pensei:
essa merda não vai dar certo! E me veio a imagem do meu namorado...
Do quanto ele ficaria decepcionado... Triste, preocupado. Talvez não
me perdoaria! Ele tem me acompanhado neste último ano difícil, em
que finalmente foi diagnosticado o Transtorno Afetivo Bipolar. Tem me
ajudado, mas também foi gatilho de algumas das minhas crises, cada
vez que brigávamos, eu ficava completamente desestabilizada, sem
saber lidar com meus altos e baixos emocionais e com as desventuras
normais da vida.
Desde que comecei a
ficar na casa dele, e não ele na minha, as coisas se acalmaram...
Até este episódio. Bom, quando vi aquele coágulo enorme... Pensei
na grande besteira que estava fazendo: mas infelizmente não porque
queria desistir de morrer... Mas porque vi que não daria certo.
Liguei pra uma amiga chorando muito, ela prontamente veio ao meu
encontro, em seguida, chegou meu namorado. O que vem depois vocês
sabem: pronto socorro, curativo, hospital psiquiátrico. Meu médico
psiquiatra que me conhece bem, não estava e o médico do plantão,
óbvio: me internou. Na unidade onde ficam as mulheres com as maiores
dificuldades, doenças... Emocionais e psiquiátricas. Mas acontece
que eu já conheço bem o sistema: terceira internação lembra? Me
comportei direitinho... Três dias depois estava na unidade
semi-aberta e no mesmo dia fui transferida para a aberta. Segui me
comportando bem... A comida era horrível e eu estava com muita
saudade do namorado e da minha filha canina... Voltei em uma semana.
Meu namorado? Sim, bem chateado... Minha cachorrinha? Muito feliz em
me ver!!!